01. Novos desafios para o educador ________________________________________________________________________________
jmmoran@usp.br
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“Continuo buscando, re-procurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar e anunciar a novidade”. Paulo Freire
- O mais importante no educador
- A aprendizagem de ser professor
- As etapas pessoais como docente
- O professor bem sucedido
- A rotina da profissão do educador
- Aprendendo a construir a identidade pedagógica pessoal
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O mais importante no educador
O importante, como
educadores, é acreditarmos no potencial de aprendizagem pessoal, na capacidade
de evoluir, de integrar sempre novas experiências e dimensões do cotidiano, ao mesmo tempo que compreendemos e aceitamos nossos limites,
nosso jeito de ser, nossa história pessoal.
Ao educar, tornamos visíveis
nossos valores, atitudes, idéias, emoções. O delicado
equilíbrio e síntese que fazemos no dia a dia transparece nas diversas
situações pedagógicas em que nos envolvemos. Os alunos e colegas percebem como somos, como reagimos diante das diferenças de opiniões, dos
conflitos de valores. O que expressamos em cada momento como pessoas é tão
importante quanto o conteúdo explícito das nossas aulas. A postura diante do
mundo e dos outros é importante como facilitadora ou complicadora dos
relacionamentos que se estabelecem com os que querem aprender conosco. Se gostamos de aprender, facilitamos o desejo de que os
outros aprendam. Se mostramos uma visão confiante e equilibrada da vida, facilitamos nos outros a forma de lidar com seus problemas,
mostramos que é possível avançar no meio das dificuldades. Alguns educadores
confundem visão crítica com pessimismo estrutural; eles só transmitem aos
alunos visões negativistas e desanimadoras da realidade. Esse substrato
pessimista interfere profundamente na visão dos alunos.
Da mesma forma, educadores
com credibilidade e uma visão construtiva da vida contribuem muito para que os
alunos se sintam motivados a continuar, a querer aprender, a aceitar-se melhor.
O educador é um ser
complexo e limitado, mas sua postura pode contribuir para reforçar que vale a
pena aprender, que a vida tem mais aspectos positivos que negativos,
que o ser humano está evoluindo, que pode realizar-se cada vez mais.
Pode ser luz no meio de visões derrotistas, negativistas, muito enraizadas em
sociedades dependentes como a nossa.
Vejo hoje o educador como
um orientador, um sinalizador de possibilidades onde ele também está envolvido,
onde ele se coloca como um dos exemplos das contradições e da capacidade de
superação que todos possuem.
O educador é um testemunho
vivo de que podemos evoluir sempre, ano após ano, tornando-nos mais humanos,
mostrando que vale a pena viver.
Numa sociedade em mudança
acelerada, além da competência intelectual, do saber específico, é importante
termos muitas pessoas que nos sinalizem com formas concretas de compreensão do
mundo, de aprendizagem experimentada de novos caminhos, de testemunhos vivos
–embora imperfeitos- das nossas imensas possibilidades de crescimento em todos
os campos.
Cada vez mais precisamos de educadores-luz,
sinalizadores de caminhos, testemunhos vivos de formas concretas de realização
humana, de integração progressiva, seres imperfeitos que vão evoluindo,
humanizando-se, tornando-se mais simples e profundos ao mesmo tempo.
A aprendizagem pessoal
O educador é especialista
em conhecimento, em aprendizagem. Como especialista, espera-se que ao longo dos
anos aprenda a ser um profissional equilibrado, experiente, evoluído; que
construa sua identidade pacientemente, equilibrando o intelectual, o emocional,
o ético, o pedagógico.
O educador pode ser
testemunha viva da aprendizagem continuada. Testemunho impresso na sua pele e
personalidade de que evolui, aprende, se humaniza, se
torna uma pessoa mais aberta, acolhedora, compreensiva.
Testemunha viva, também,
das dificuldades de aprender, das dificuldades em mudar, das contradições no
cotidiano; de aprender a compreender-se e a compreender.
Com o passar do tempo ele
vai mostrando uma trajetória coerente, de avanços, de sensatez e firmeza. Passa
por etapas em que se sente perdido, angustiado, fora de foco. Retoma o rumo,
depois, revigorado, estimulado por novos desafios, pelo contato com seus
alunos, pela vontade de continuar vivendo, aprendendo, realizando-se e
frustrando-se, mas mantendo o impulso de avançar.
Há momentos em que se sente
perdido, desmotivado. Educar tem muito de rotina, de repetição, de decepção. É
um campo cada vez mais tomado por investidores, por pessoas que buscam lucros
fáceis. Ele se sente parte de uma máquina, de uma engrenagem que cresce
desproporcionalmente. Sente-se insignificante, impotente, um número que pode
ser substituído por muitos jovens ansiosos pelo seu lugar. Sabe que sua
experiência é importante, mas também que outros estão dispostos a assumir o seu
lugar por salários menores.
Ensinar tem momentos “glamourosos”, em que os alunos participam, se envolvem, trazem contribuições
significativas. Mas muitos outros momentos são banais; parece que nada
acontece. É um entra e sai de rostos que se revezam no mesmo ritmo semanal de
aula, exercícios, mais aulas, provas, correções, notas, novas aulas, novas
atividades.... A rotina corrói uma parte do sonho, a
engrenagem despersonaliza; a multiplicação de instituições escolares torna
previsíveis as atividades profissionais. Há um aumento de oferta profissional
(mais vagas para ser professor), junto com uma diminuição das exigências para a
profissão (mais fácil ter diploma, muitos estudantes em fase final são
contratados, aumenta a concorrência). A tentação da mediocridade é real. Basta
ir tocando para ficar anos como docente, ganhar um salário seguro, razoável. Os
anos vão passando e quando o professor percebe já está na fase madura e se
tornou um professor acomodado.
As etapas pessoais como docente
Apesar de que cada docente
tem sua trajetória, há pontos da evolução profissional coincidentes. Relato a
seguir uma síntese de questões que costumam acontecer – com muitas variáveis -
na trajetória de muitos professores, a partir da minha experiência.
Primeira etapa:
iniciação
No começo recém formado, começa
a ser chamado para substituir um professor em férias, uma professora em licença
maternidade, dá algumas aulas no lugar de professores ausentes. Ele ainda se
confunde com o aluno, intimamente se sente aluno, mas percebe que é visto pelos
alunos como uma mistura de professor e aluno. Ele luta para se impor, para
impressionar, para ser reconhecido. Prepara as aulas, traz atividades novas, se
preocupa em cativar os alunos, em ser aceito. Sente medo de ser ridicularizado
em público com alguma pergunta impertinente ou muito difícil. Tem medo dos que
o desafiam, dos alunos que não ligam para as suas
aulas, dos que ficam conversando o tempo todo. Procura ser inovador, e, ao
mesmo tempo, percebe que reproduz algumas formas de ensinar que via como aluno, algumas até que criticava. É uma etapa de
aprendizagem, de insegurança, de entusiasmo e de muito medo de fracassar. O
tempo passa, os alunos vão embora, chegam outros em outro semestre e o processo
recomeça. Agora já tem uma noção mais clara do que o espera; planeja com mais
segurança o novo semestre, repete alguns macetes que deram certo no primeiro
semestre, busca alguns textos diferentes, inova um pouco, faz uma síntese do
que deu certo antes. Vê que algumas atividades funcionam sempre e outras não
tanto. Descobre que cada turma tem comportamentos semelhantes, mas que reage de
forma diferente às mesmas propostas e assim vai, por tentativa e erro,
aprendendo a diversificar, a desenvolver um “feeling” de como está cada classe,
de quando vale a pena insistir na aula teórica planejada e quando tem que
introduzir uma nova dinâmica, contar uma história, passar um vídeo, encurtar o
fim da aula, etc.
Segunda etapa:
consolidação
De semestre em semestre o
jovem professor vá consolidando o seu jeito de ensinar, de lidar com os alunos,
as áreas de atuação. Consegue ter maior domínio de todo o processo. Isso lhe dá
segurança, tranqüilidade. Os colegas e coordenadores vão indicando-o para novas
turmas, novas disciplinas, novas instituições. Multiplica o número de aulas.
Aumenta o número de alunos. É freqüente, no ensino superior particular, um
professor ter entre mais de quinhentos alunos por semana. Compra um
apartamento. Forma uma família. Vira um tocador de aulas. Cada vez precisa
aumentar mais o número de aulas, para manter a renda.
Desenvolve algumas fórmulas
para se poupar. Repete o mesmo texto em várias turmas e, às vezes, em várias
disciplinas. Utiliza um mesmo vídeo para diversos temas. Dá
trabalhos bem parecidos para turmas diferentes, em grupo, para facilitar a
correção. Lê superficialmente os trabalhos e as provas. Faz comentários
genéricos: Continue assim, “insuficiente”, “esforce-se mais”, “parabéns”,
“interessante”. Prepara as aulas encima da hora, com poucas mudanças. Repete fórmulas, métodos, técnicas.
Terceira etapa: Crise de
identidade
Sempre há alguma crise, mas
esta é diferente: pega o professor de cheio. Aos poucos o dar aula se torna
cansativo, repetitivo, insuportável. Parece que alguns coordenadores são mais
“chatos”, “pegam mais no pé”. Algumas turmas também não querem nada com nada.
As reuniões de professores são todas iguais, pura perda de tempo. Os salários são baixos. Outros colegas mostram que ganham mais
em outras profissões. Renova-se a dúvida: vale a pena ficar como está ou dar
uma guinada profissional?
Por enquanto vai tocando.
Torce para que haja muitos feriados, para que os alunos não venham em determinados dias.
Qualquer motivo justifica não dar aula. Cria muitas
atividades durante a aula: leituras em grupo, pesquisa na biblioteca, vídeos
longos e isso lhe permite descansar um pouco, ficar na sala dos professores, poupar a voz.
Muitas vezes essa crise
profissional vem acompanhada de uma crise afetiva. O relacionamento a dois não
é o mesmo, passa pela indiferença ou pela separação. Sente-se intimamente
bastante só, apesar das aparências. E em algum momento a crise bate mais fundo:
o que é que eu faço aqui? Qual é o sentido da minha vida? Tem tanta gente que
sabe menos e está melhor! Como defender uma sociedade mais justa num país onde
só os mesmos ficam mais e mais ricos?
Olha para trás e vê muitos
recém formados doidos para entrar a qualquer jeito, ganhando menos do que ele.
E esses moleques petulantes têm outra linguagem, dominam mais a Internet, estão
cheios de gás. Embora faça cursos de atualização, sente-se em muitos pontos
ultrapassado. Sempre foi preparado para dar respostas, para ser o centro do
saber e agora descobre mais claramente que não tem certezas, que cada vez sabe
menos, que há muitas variáveis para uma mesma questão e que novas pesquisas
questionam verdades que pareciam definitivas. Essa sensação de estar fora do
lugar, de inadequação vai aumentando e um dia explode. A crise se generaliza.
Nada faz sentido. A depressão toma conta dele. Não tem mais vontade de
levantar, chega atrasado. Justifica cada vez mais suas faltas.
Quarta etapa: mudanças
Diante da crise, alguns
professores desistem, entregam a toalha. Procuram algumas saídas, mesmo que
precárias: festas, um caso, bebida, algumas viagens. Depois vão se acalmando,
dizem: a vida é assim mesmo; “vou tocar a vida o melhor que puder e seguir
enfrente”.
Alguns procuram uma nova
atividade profissional mais empolgante e deixam as aulas como complemento, como “bico”.
Ele procura refletir sobre
sua vida profissional e pessoal. Tenta encontrar caminhos, reaprender a
aprender. Atualiza-se, observa mais, conversa, medita. Aos poucos busca uma
nova síntese, um novo foco. Começa pelo externo, por estabelecer um
relacionamento melhor com os alunos, procura escutá-los mais. Prepara melhor as
aulas, utiliza novas dinâmicas, novas tecnologias. Lê novos autores, novas filosofias. Reflete mais, medita.
Descobre que precisa se gostar mais, aceitar-se melhor, ser mais humilde e
confiante. E assim, pouco a pouco, redescobre o prazer de ler, de aprender, de
ensinar, de viver. Está mais atento ao que acontece ao seu lado e dentro de si.
Procura simplificar a vida, consumir menos, relaxar mais. Vê exemplos de
pessoas que envelhecem motivados para aprender e isso lhe é um estímulo para o
futuro, para seguir adiante, para renovar-se todos os
dias. Torna-se mais humano, acolhedor, compreensivo, tolerante, aberto. Dialoga
mais, ouve mais, presta mais atenção. Com o assar do tempo percebe que não é
perfeito, mas que tem evoluído muito e que redescobriu o prazer de ensinar e de
viver.
Esta é a atitude maravilhosa de quem
gosta de aprender. O aprender dá sentido à vida, a todos os momentos da vida,
mesmo quando ela está no fim.
Aprendi com Rogers a sentir prazer em aprender, e a perceber que podemos envelhecer vivenciando a
alegria de aprender com mais profundidade, descobrindo novas perspectivas,
idéias, pessoas. Sinto que muitas pessoas aprendem por necessidade, para
sobreviver, para não ficar para trás, para ganhar dinheiro. Quando se
aposentam, costumam aposentar-se também de aprender. E perdem uma das grandes
motivações de viver. Tornam-se previsíveis, repetitivos.
Essa atitude de gostar de aprender não se
improvisa. Vai se desenvolvendo ao longo da vida, a partir de experiências
positivas na infância, em casa e na escola. Se a escola incentiva a curiosidade, a descoberta, o aluno desenvolve o gosto por
ler, por ir além do exigido, pesquisa por si mesmo e vai atrás de novos
conhecimentos.
O professor bem sucedido
Por que, nas mesmas
escolas, nas mesmas condições, com a mesma formação e os mesmos salários, uns
professores são bem aceitos, conseguem atrair os alunos e realizar um bom
trabalho no ofício de ajudar os alunos a aprender?
Não há uma única forma ou
modelo. Depende muito da personalidade, competência, facilidade de aproximar e
gerenciar pessoas. Uma das questões que determina o sucesso profissional maior
ou menor do professor é a capacidade de relacionar-se, de comunicar-se, de
motivar o aluno de forma constante e competente. Alguns professores conseguem
uma mobilização afetiva dos alunos pelo seu magnetismo, simpatia, capacidade de
sinergia, de estabelecer um “rapport”, uma sintonia interpessoal grande. É uma
qualidade que pode ser desenvolvida, mas alguns a possuem em grau superlativo,
a exercem intuitivamente e facilita todas as atividades propostas.
Uma das formas de
estabelecer vínculos é mostrar genuíno interesse pelos alunos. Os professores
de sucesso não se preparam para o pior, mas para o melhor nos seus cursos.
Preparam-se para desenvolver um bom relacionamento com os alunos e para isso os
aceitam afetivamente antes de os conhecerem, se predispõem a gostar deles antes
de começar um novo curso. Essa atitude positiva é captada consciente e inconscientemente
pelos alunos que reagem da mesma forma, dando-lhes crédito, confiança,
expectativas otimistas. O contrário também acontece: professores que se
preparam para a aula como uma batalha, que estão cheios, cansados de dar aula
passam consciente e inconscientemente esse mal-estar que é correspondido com a
desconfiança dos alunos, com o distanciamento, com barreiras nas expectativas.
É muito tênue o que fazemos
em aula para facilitar a aceitação ou provocar a rejeição. É um conjunto de
intenções, gestos, palavras, ações que são traduzidos pelos alunos como
positivos ou negativos, que facilitam a interação, o desejo de participar de um
processo grupal de aprendizagem, de uma aventura pedagógica (desejo de
aprender) ou, pelo contrário, levantam barreiras, desconfianças, que
desmobilizam.
O
sucesso pedagógico depende também da capacidade de expressar competência
intelectual, de mostrar que conhecemos de forma pessoal
determinadas áreas do saber, que as relacionamos com os interesses dos
alunos, que podemos aproximar a teoria da prática e a vivência da reflexão
teórica.
A coerência entre o que o
professor fala e o que faz, como vive é um fator
importante para o sucesso pedagógico. Se um professor une a competência
intelectual, a emocional e a ética causa um profundo impacto nos alunos. Estes
estão muito atentos à pessoa do professor, não somente ao que fala. A pessoa
fala mais que as palavras. A junção da fala competente com a pessoa coerente é poderosa.
As técnicas de comunicação
também são importantes para o sucesso do professor. Um professor que fala bem,
que conta histórias interessantes, que tem feeling para sentir o estado de ânimo da classe, que se adapta às circunstâncias, que
sabe jogar com as metáforas, o humor, que usa as tecnologias adequadamente, sem
dúvida consegue bons resultados com os alunos. Os alunos gostam de um professor que os surpreenda, que
traga novidades, que varie suas técnicas e métodos de organizar o processo de
ensino-aprendizagem.
Ensinar
sempre será complicado pela distância profunda que existe
entre adultos e jovens. Por outro lado, essa distância nos torna
interessantes, justamente porque somos diferentes. Podemos aproveitar a
curiosidade que suscita encontrar uma pessoa com mais experiência, realizações
e fracassos. Um dos caminhos de aproximação ao aluno é pela comunicação pessoal de vivências, estórias, situações que o aluno ainda
não conhece em profundidade. Outro é o da comunicação afetiva, da aproximação
pelo gostar, pela aceitação do outro como ele é e encontrar o que nos une, o que nos
identifica, o que temos em comum. Um professor que se mostra competente e
humano, afetivo, compreensivo atrai os alunos. Não é a tecnologia que resolve
esse distanciamento, mas pode ser um caminho para a aproximação mais rápida:
valorizar a rapidez, a facilidade com que crianças e jovens se expressam
tecnologicamente ajuda a motivar os alunos, a que queiram se envolver mais. Podemos aproximar nossa linguagem da deles, mas sempre será
muito diferente. O que facilita são as entrelinhas da comunicação lingüística:
a entonação, os gestos aproximadores, a gestão de processos de participação e
acolhimento, dentro dos limites sociais e acadêmicos possíveis.
O educador não precisa ser “perfeito”
para fazer um grande trabalho. Fará um grande trabalho na medida em que se
apresenta da forma mais próxima ao que ele é naquele momento, que se “revela”
sem máscaras, jogos. Quando se mostra como alguém que está atento a evoluir, a
aprender, a ensinar e a aprender. O bom educador é um
otimista, sem ser ‘ingênuo”. Consegue “despertar”, estimular, incentivar
as melhores qualidades de cada pessoa.
A rotina da profissão do educador
Como em outras profissões
há uma distância entre os sonhos e a realidade. No começo, recém formados, os
jovens professores compensam com o entusiasmo a falta de experiência e de
formação nos métodos e técnicas de comunicação em sala de aula, de gestão do
processo de ensino-aprendizagem.
Aos poucos vão assumindo
novas turmas, trabalhando em duas ou três escolas para poder ter um salário
decente e o ensinar vai tornando-se sua profissão, seu ofício um ano após o
outro, uma profissão segura e previsível.
Com o tempo, domina os
macetes, procura dosar as energias para chegar até o fim da jornada, escolhe
turmas melhores, procura facilitar as tarefas de avaliação para não demorar
tanto na correção de atividades.
A profissão do professor
vira rotina, repetição, os semestres e os anos vão passando, tudo parece que se repete e costumam, muito deles, passar pelo período de
saturação: tudo incomoda, ensinar parece tedioso, improdutivo; consultam o
calendário olhando os feriados, as pontes sem aula, os domingos a noite cada
vez mais deprimentes, calculam o tempo que lhes falta para aposentadoria.
Uma parte dos professores
continua sua rotina a caminho da mediocridade. Fazem cursos de atualização para
ganhar pontos, melhorar o salário, mas pouco mudam na
sua prática pedagógica. Outros, insatisfeitos, procuram formas de melhorar, de
evoluir. Inscrevem-se em novos cursos, procuram melhorar suas aulas, se
preocupam mais com os alunos, introduzem novas tecnologias nas classes, novas
técnicas de comunicação.
Tem professores que se
burocratizam na profissão. Outros se renovam com o tempo, se tornam pessoas
mais humanas, ricas e abertas. As chances são as mesmas, os cursos feitos, os
mesmos; os alunos, também são iguais. A
diferença é que uma parte muda de verdade, busca novos caminhos e a outra se
acomoda na mediocridade, se esconde nos ritos repetidos. Muitos professores se
arrastam pelas salas de aula, enquanto outros, nas mesmas circunstâncias,
encontram forças para continuar, para melhorar, para realizar-se.
Não tem programas de
formação, de atualização que dêem certo se os professores não se motivam para
melhorar, se não estão dispostos a crescer, aprender, evoluir.
O professor-aprendiz
Quando
pensamos em educação costumamos pensar no outro, no aluno, no aprendiz e
esquecer como é importante olharmo-nos os que somos profissionais do ensino
como sujeitos e objetos também de aprendizagem. Ao focarmo-nos como aprendizes,
muda a forma de ensinar. Se me vejo como aprendiz, antes do que professor, me coloco numa atitude mais atenta, receptiva, e
tenho mais facilidade em estar no lugar do aluno, de aproximar-me a como ele
vê, a modificar meus pontos de vista.
A atitude primeira do
educador profissional em perceber-se como aprendiz o torna atento ao que
acontece ao seu redor, sensível às informações do ambiente, dos outros. Preciso
colocar-me junto com o aluno como professor-ensinante e professor-aprendiz. Parece
óbvio ou só um jogo de palavras, mas não o é e a mudança de atitude tem grandes
conseqüências. Se me coloco, como professor, sempre e somente
no lugar do aluno, trabalho com informações úteis para o aluno, adquiro
uma grande capacidade de senti-lo, de adaptar a minha linguagem, de sintonizar
com suas aspirações e isso é bom. Se eu, ao mesmo tempo, que penso no aluno,
também me penso como aluno, além de adaptar-me ao outro, eu estou aprendendo
junto, estou fazendo a ponte entre informação, conhecimento e sabedoria, entre
teoria e prática, entre conhecimento adquirido e o novo. Com um olho vejo o
aluno, como o outro me enxergo como aluno-professor. O que estou propondo é ampliar o foco da
relação para não colocar-me só na posição de professor e sim na de aluno/professor
com mais intensidade.
Quais são as conseqüências? Se aprendo mais, de verdade, se incorporo a
aprendizagem para o outro à aprendizagem também para mim, evoluirei mais
rapidamente, entenderei melhor os mecanismos de aprender, as dificuldades, os
conflitos pessoais e os dos meus alunos. Se eu aprendo mais e melhor, só me
falta pensar como encontrar o caminho para comunicar-me com os alunos, como ser
mediados entre onde me encontro e onde eles se encontram.
Roteiros previsíveis e semi-desconhecidos
Se me coloco como professor
que aprende e não só que ensina, viverei duas situações interligadas, mas
diferentes. Em muitas ocasiões, me coloco diante dos alunos como alguém que já conhece, que já percorreu o caminho anteriormente e que quer
ajudar os alunos a fazer essa travessia. Ensinar o que já conhecemos é o que
fazemos quando transmitimos nossas experiências, vivências, exemplos,
situações, leituras. Como pessoa mais experiente, espera-se que ajude os alunos
nesta travessia.
Mas há momentos e situações
que escapam mais ao meu controle, nas quais me vejo também vivendo como
aprendiz, que eu começo a enxergar de uma outra forma, sem ainda ter feito todo
o percurso de antemão. Nesta situação, sou um professor que está aprendendo e,
ao mesmo tempo, mostrando o processo de aprender enquanto acontece e não só o
resultado, como um processo plenamente dominado. É uma outra forma e situação
que hoje enfrentamos com freqüência e que é rica também para o aluno.
Com um exemplo ficará mais
fácil visualizar o que estou dizendo. Se eu já conheço Madri e Barcelona, ao
vivo e por leituras, posso ser guia dos meus alunos, ajudá-los a escolher os
melhores pontos turísticos para visitar, darei informações mais precisas sobre
o que estamos vendo. O meu conhecimento prévio me torna um informante e
mediador confiável. Isso me dá segurança e confere segurança também aos alunos:
temos um guia conhecedor e confiável.
Mas há outros momentos em
que posso fazer um convite aos alunos e dizer-lhes: Vamos viver uma aventura?
Vamos todos juntos para uma cidade desconhecida, fazer um caminho diferente,
que eu ainda não percorri? Apesar da minha experiência como
viajante-conhecedor, agora há elementos que me escapam, há conhecimentos que
preciso atualizar rapidamente, haverá um maior número de surpresas, os alunos
poderão trazer informações significativas que eu desconheço. Nesta última
situação eu aprendo junto muito mais, embora possa cometer alguns erros de
percurso, me perder em alguns momentos, ficar em dúvida sobre quais escolhas são as mais acertadas. E os alunos, sendo co-responsáveis
pelo processo, também estarão mais motivados e darão contribuições mais
significativas.
Se eu me coloco como um
professor-aprendiz e não só como um especialista em viagens, proporei aos
alunos novos caminhos, novos desafios, e não só roteiros previsíveis. Os roteiros previsíveis dão segurança, nos tranqüilizam, mas, na
segunda ou terceira vez, já perdem a graça. Muitos professores se comportam
como guias turísticos que fazem sempre os mesmos roteiros, repetem as mesmas
falas, percorrem cada semestre os mesmos percursos. Na décima viagem, será
muito difícil estar empolgado, a não ser fazendo um esforço, conscientizando-me
de que é minha atividade profissional e represento o papel da descoberta, mas
não a vivencio. Somente os alunos podem vivenciá-la, se para eles realmente é
uma descoberta, se eles já não tinham estado antes em outra excursão ou por si
mesmos. Se eu sou professor-aprendiz, mesmo que conheça os roteiros, estarei
atento a novos detalhes, novas informações, novos caminhos. Criarei estratégias
de motivação diferentes, farei entrevistas com pessoas que não conheço. Dentro
da previsibilidade do roteiro, farei inúmeras variações (porque eu também estou
aprendendo junto).
Se sou um professor-aprendiz
inovador posso combinar roteiros previsíveis, trilhados com diferentes
estratégias e caminhos, com roteiros semi-desconhecidos onde eu não sou tão
especialista e em que proponho que o grupo esteja mais atento para aprendermos
juntos, para utilizar todas as experiências prévias de todos, para trocar mais
informações. Sem dúvida é mais arriscado, mas mais excitante.
Numa sociedade como a
nossa, com tantas mudanças, rapidez de informações e desestruturação de
certezas, não podemos ensinar só roteiros seguros,
caminhos conhecidos, excursões programadas. Precisamos arriscar um pouco mais,
navegar juntos, trocar mais informações, apoiados no guia um pouco mais
experiente, mas que não tem todas as certezas, porque elas não existem como
antes se pensava.
Muitos transformam a
educação em uma agência de viagens, com roteiros pré-programados, previsíveis.
É, sem dúvida, mais seguro, fácil para todos e confortável. Hoje é insuficiente
esse modelo. Precisamos combiná-lo com roteiros semi-previsíveis,
semi-estruturados, com pontos de apoio sólidos, mas com muitos momentos livres
para permitir escolhas personalizadas e com outros de aventura, onde todos nos
sintamos empolgados e efetivamente participantes de uma aprendizagem coletiva.
O que é importante para ser professor
hoje
Algumas diretrizes são importantes para o professor que quer ser excelente profissional:[2]
·
Crescer profissionalmente, atento
a mudanças e aberto à atualização.
·
Conhecer a realidade econômica, cultural,
política e social do país, lendo atenta e criticamente jornais e revistas
impressos e na Internet.
·
Participar de atividades e projetos importantes da
escola
·
Escolher didáticas que promovam a aprendizagem
de todos os alunos, evitando qualquer tipo de exclusão e respeitando as
particularidades de cada aluno, como sua religião ou origem étnica.
·
Orientar a prática de acordo com as
características e a realidade dos alunos, do bairro, da comunidade.
·
Participar como profissional das associações da
categoria e lutar por melhores salários e condições de trabalho.
·
Utilizar diferentes estratégias de avaliação de
aprendizagem — os resultados são a base para você
elaborar novas propostas pedagógicas. Não há mais espaço para quem só sabe
avaliar com provas.
Aprendendo a construir a identidade pedagógica pessoal
Cada um de nós vai
construindo sua identidade com pontos de apoio que considera
fundamentais e que definem as suas escolhas. Cada um tem uma forma
peculiar de ver o mundo, de enfrentar situações inesperadas. Filtramos tudo a
partir de nossas lentes, experiências, personalidade, formas de perceber,
sentir e avaliar a nós mesmos e aos outros.
Uns precisam viver em um ambiente super-organizado e não conseguem produzir se houver
desordem, enquanto outros não dão a mínima para a bagunça ou fazem dela um hábito.
Uns precisam de muita antecedência para realizar uma tarefa,
enquanto outros só produzem sob a pressão do
último momento.
Na construção da nossa
identidade é importante como nos vemos, como nos
sentimos, como nos situamos em relação aos outros. Muitos fomos educados para
depender da aprovação dos demais, fazemos as coisas pensando mais em agradar os
outros do que no que realmente desejamos.
Todos
experimentamos inúmeras formas de comparação, ficamos em segundo plano, fomos deixados de
lado, sofremos todo tipo de perdas e isso interfere na nossa auto-imagem.
Sempre
nos colocam modelos inatingíveis de beleza, de riqueza, de sucesso, de
realização afetiva. É intensa a pressão social para que nos sintamos infelizes, diminuídos em
alguns pontos ou para que nos contentemos com pouco.
Muitos permanecem
imobilizados pelo medo do julgamento alheio, pelo medo de falhar. Vivem para
fora, para serem queridos, aceitos. E sem essa aceitação se sentem mal, se
escondem fisicamente ou através de formas de comunicar-se pouco autênticas, desenvolvendo papéis para consumo externo.
Internamente – mesmo quando
aparentemente o negamos – temos consciência de que somos frágeis,
contraditórios, inconstantes e, em alguns campos, inferiores a outros.
A grande questão é que, intimamente, muitos não se gostam
de verdade,
não se aceitam plenamente como são, duvidam
do seu valor, tentam justificar seus problemas, procuram formas de compensação, de aprovação.
Boa parte
dos nossos descaminhos, das nossas dificuldades, perdas e problemas advém do medo de sermos felizes, de acreditar
no nosso potencial.
Ficamos marcando passo por
sentir-nos inseguros, por incorporar tantas injunções negativas, acomodadoras, medíocres.
Essa construção da nossa
identidade que fomos realizando tão penosamente não a podemos modificar
magicamente. Podemos, contudo, aprender a ir modificando alguns processos de
percepção, emoção e ação.
É importante reconhecer nossas
qualidades, valorizá-las, destacá-las e buscar formas de colocá-las em prática,
escolhendo situações em que elas sejam mais testadas e necessárias. Estar
atentos ao que acontece e ir antecipando-nos, prevendo, testando, avaliando.
Somos chamados a realizar grandes vôos.
Podemos ir muito além de onde estamos e de onde imaginamos e de onde os outros
nos percebem.
Podemos modificar nossa
percepção, aprendendo a aceitar-nos e a gostar plenamente de nós, a aceitar-nos
plenamente, intimamente como somos,
sem comparações nem desvalorizações, quando
ninguém nos vê,
quando não temos que representar para alguém e
ir adiante, no nosso ritmo, acreditando no nosso potencial.
Para mudar o mundo podemos
começar mudando a nossa visão dele, de nós. Ao mudar nossa visão das coisas,
tudo continua no mesmo lugar, mas o sentido muda, o contexto se altera.
Em geral não é preciso ir
morar em outro ambiente, em outra cidade, mas descobrir novas formas de olhar e
de compreender as pessoas, os ambientes com as que convivemos.
Construímos a vida sobre
fundamentos autênticos ou falsos. As construções em falso são como andaimes ou
contrapesos para segurar uma parte do prédio que pode vir abaixo, cair.
Procuramos esconder – até de nós mesmos - o lado negativo, o que anos incomoda, o que não gostamos.
Quanto mais muros de
contenção, duplas paredes, contrafortes criamos,
Quanto mais estruturas paralelas levantamos, menos evoluímos a longo
prazo, menos nos realizamos.
As pessoas podem criar
obras incríveis, maravilhosas em qualquer setor e, mesmo assim, girar em falso,
estarem construindo superestruturas paralelas.
Se o que nos leva a
realizar coisas é a necessidade de reconhecimento, de aceitação, de ser
queridos, o foco está distorcido e poderemos estar agindo a vida toda em falso.
Se eu preciso
necessariamente da aprovação de alguém para sentir-me bem, na mesma medida
deixo de aceitar-me, de gostar-me, de integrar-me. Eu me volto na direção do
outro, o coloco como eixo e começo a girar em falso. E quanto mais insisto
nesse padrão e direção, mais me afasto do meu centro, mais energia
preciso gastar, mais peso e superestrutura acumular. Posso ser
reconhecido e não evoluir nem ser feliz.
Creio que a grande maioria
das pessoas se agita muito, faz mil atividades, mas não foca o essencial. Chega
quase lá, mas lhe falta a atitude de total sinceridade
consigo, de permitir-se o desvendamento de tudo o que é e carrega
consigo. Espera a sua realização dos outros, de ser reconhecido por eles.
Hoje dá-se muita ênfase às profissões onde há visibilidade, de divulgação, de marketing,
que propiciam ser reconhecido como as de modelo, ator, esportista,
televisão...). Muitos buscam a TV, ser entrevistados, aparecer em comunas de
jornais. Em si isso é bom, mas a atitude pode atrapalhar. Precisam de reconhecimento social como condição
fundamental para sentir-se bem. São felizes se e quando aparecem, quando
são solicitados, quando estão em evidência.
É bom ser chamado, mas não
posso depender disso, não posso ser infeliz se não me chamam nem focar minha
vida em função do reconhecimento público. Se vier, ótimo, o aceitarei com
prazer, mas não estarei ansioso pelo sucesso, pela aprovação, por ser
reconhecido. Continuo minha vida focando a aceitação, a mudança possível e a
interação tranqüila com as pessoas e atividades que em cada etapa possuem
significado e que me ajudam a crescer.
A
comunicação autêntica estabelece conexões significativas na relação com o
outro. Desarma as resistências e provoca, geralmente, uma resposta positiva,
ativa, e desarmada dele. Em contrapartida, a comunicação agressiva gera reações
semelhantes no outro e pode complicar todo o processo subseqüente.
A
cada dia confirmo mais a importância de termos mais e mais pessoas na sociedade
e especificamente na educação que sejam capazes de relacionar-se de forma
aberta com os outros, que facilitem a comunicação com os colegas, alunos, administração
e famílias. Pessoas maduras emocionalmente, que saibam gerenciar os conflitos
pessoais e grupais; que tenham suficiente flexibilidade para compreender
diferentes pontos de vista, e intuição para aproximar-se de forma adequada a
diferentes pessoas e formas de viver.
Necessitamos
urgentemente dessas pessoas para mudar o enfoque fundamental das práticas
educacionais, para vivenciar práticas mais ricas, abertas e significativas de
comunicação pedagógica inovadora, profunda, criativa, progressista.
Descubro,
com satisfação, que mais e mais pessoas estão ou mudando ou querendo mudar.
Isso é um excelente sinal de que é possível realizar um grande trabalho na
educação brasileira. Vamos concentrar-nos nestes grupos que estão prontos para
o novo, que procuram aprender, que estão dispostos a avançar, a experimentar
formas mais profundas de comunicação pessoal e tecnológica.
Temos
um
longo trabalho, no campo político, de implementar ações estruturais de
apoio à mudança integrada, que contemple currículo, processos
de comunicação e tecnologias. Podemos ir incentivando as pessoas, grupos
e
instituições que estão buscando soluções novas e sérias em educação. Na
universidade podemos dar subsídios teóricos e pedagógicos para essa
mudança.
[1]
Um jeito de ser,
p.33.
[2]
Adaptado de Denise
PELLEGRINI. O ensino mudou e você?. Revista Nova
Escola. Ed. 131, abril, 2000. Disponível em:http://novaescola.abril.uol.com.br/ed/131_abr00/html/cresca.htm
Este texto meu foi publicado no livro A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, p. 73-86.
Fonte:
02. O novo formador
Pesquisa revela que professores são as figuras que mais influenciam a formação de leitores, mas os próprios docentes ainda estão no processo de aprender a gostar dos livros
Carmen GuerreiroProfessores: principais influenciadores de leitura |
A investigação dos motivos pelos quais essa mudança aconteceu será tema de um próximo estudo do Instituto Pró-Livro, mas a gerente de projetos da instituição, Zoara Failla, já faz suposições. Para ela, uma das coordenadoras da pesquisa, o resultado se explica pelo investimento dos governos na melhoria das bibliotecas escolares e em formação de professores como mediadores de leitura. "Espero que estejamos conseguindo resultados nesse sentido", diz. Já Ezequiel Theodoro da Silva, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual da Campinhas (Unicamp), e autor do site Leituracritica.com.br, faz uma análise menos otimista. "Há um movimento de conscientização maior dentro da classe do magistério e uma sensibilidade melhor dos governos para a importância de ler, mas nada disso melhorou o desempenho em leitura até agora. Todas as pesquisas mostram que os avanços em leitura são diminutos", observa.
Para o pesquisador, se o suposto investimento fosse o motivo dessa mudança na função do professor como incentivador, o retrato da leitura no Brasil hoje seria completamente diferente. A própria pesquisa da Pró-livro mostra que os brasileiros leem cada vez menos - a amostra de leitores caiu de 55% em 2007 para 50% em 2011. O dado, somado aos resultados catastróficos do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) em relação à leitura, já revela um cenário negativo. Silva responsabiliza parte desse panorama justamente à má formação de professores. "Um fenômeno terrível no Brasil é o enfraquecimento da formação de professores em função da privatização das faculdades. Ainda mais na questão da leitura, que fica debilitada porque é tratada nessas escolas em termos de didática em geral", critica.
Transposição de responsabilidadeO real motivo para o professor ter assumido a função de fazer os jovens pegarem gosto por livros, ainda de acordo com o pesquisador, é decorrente de um fenômeno preocupante. Essa transferência de papéis viria junto com o movimento dos pais, especialmente das mães, de trabalhar fora de casa e não ter tempo de acompanhar os estudos e incentivar a leitura com os filhos. Com isso, a responsabilidade é repassada para a escola. "Muitas coisas que eu aprendi com os meus pais, como escovar os dentes e me alimentar corretamente são hoje esperadas da escola. A descoberta da pesquisa remete a esse enfraquecimento de responsabilidades familiares e o fortalecimento das responsabilidades da escola", afirma Silva. Ele enxerga os professores como "super-homens" e "mulheres-maravilha", no sentido que é esperado que eles assumam a responsabilidade da família ao mesmo tempo que não são dadas as condições ideais de trabalho para que eles façam isso - logo, a expectativa é sobre-humana.
Além da questão do trabalho e da falta de tempo dos pais, Zoara, do Pró-Livro, explica que a melhora da condição econômica média do brasileiro só se refletiu na questão de bens materiais, e não culturais. Isso quer dizer que mesmo quem hoje faz parte da classe média não se identifica com a leitura. "Só ganharam poder aquisitivo, mas não podemos dizer que deram um salto na questão da leitura. E se esse é o perfil da mãe, a escola precisa suprir essa lacuna", explica. Segundo ela, a maior parte das famílias não tem livros em casa e um percentual grande de chefes de família só possui o ensino fundamental e/ou são analfabetos, o que se reflete em como a criança cria seu conceito sobre o livro. "É mais fácil a família criar esse gosto pela leitura a partir do exemplo, lendo em casa ou presenteando com livros."
A afirmação de Zoara se baseia na conclusão da pesquisa de que 49% dos leitores veem ou viam suas mães lendo sempre ou de vez em quando, enquanto 63% de quem não lê relatou que nunca viram a mãe ler. Quando a mesma pergunta é feita em relação ao pai, então, os resultados são bem piores: apenas 32% viram seus pais lendo sempre ou eventualmente, enquanto 68% dos não leitores nunca tiveram essa experiência. Além disso, o estudo mostra que quem ganhou livros ao longo da vida com mais frequência tende a ser leitor. Entre os que não leem, 87% nunca foram presenteados com um livro.
Exemplos reaisAna Graziela Cabral, atualmente professora particular de língua portuguesa e literatura, enxerga seu perfil retratado pela pesquisa, bem como o dos pais e alunos com quem tem contato. "Dentre os fatores que levam ao decréscimo do interesse dos jovens pelos livros, pode-se destacar a falta de valorização da leitura em casa, de forma que os filhos não encontram nos pais um espelho, transferindo para o professor a imagem de leitor modelo", afirma. "Esses e muitos outros fatores sociais e culturais tornam o docente o maior responsável por imprimir nos alunos um genuíno interesse pelos livros."
Patrícia Oliveira, professora do 2º ano do ensino fundamental da E.E. Professor Astor Vasques Lopes, de Itapetininga (SP), concorda com Ana Graziela. Nos projetos de incentivo à leitura feitos pela escola - descritos na página 40 - ela participa da contação de histórias para os alunos, e observa como os pais convidados para a atividade ficam, assim como os filhos, admirados com a forma como eles trabalham os livros. "Nosso papel na sala de aula é servir de exemplo para o aluno, porque se não demonstrarmos interesse ele também não vai querer ler. Mas o pai também nos vê como exemplo porque se espelha em como o professor lê", diz.
Apoio ao professor leitorApesar de a família não cumprir seu papel na maioria das vezes, a responsabilidade pelo crescimento do papel do professor como influenciador não pode ser totalmente desvinculada da figura docente. Aos poucos, o professor tem assumido a função de estimular a leitura conforme ele próprio toma gosto pelos livros. "Ele não mudou seu papel, só está assumindo mais plenamente e eficientemente sua função de mediação de leitura", aponta Zoara. Arlete Ansbach, diretora da mesma E.E. Professor Astor Vasques Lopes, observa essa ampliação do envolvimento docente com a leitura em sua equipe e avalia que somente agora muitos educadores estão se tornando leitores competentes. "A própria formação continuada hoje já exige essa competência. As HTPCs trazem textos, indicações de livros, o que faz com que o professor seja um leitor. Ele gostando de ler, o aluno pega gosto também", defende. E que tipo de apoio os professores precisam na hora de assumir a responsabilidade de incentivadores da leitura? O primeiro suporte, defende Zoara, do Pró-Livro, é a formação inicial e continuada. Segundo ela, não só os professores de português, mas de todas as disciplinas, precisam envolver os livros em suas aulas, pois a leitura é fundamental na absorção do conhecimento e hoje está desvalorizada na universidade. "É fundamental que se perceba a leitura como uma das principais ferramentas para a aprendizagem, o que não acontece nos cursos de formação", alerta.
Um segundo aspecto de apoio ao educador seria, dentro das escolas, melhorar o atendimento e infraestrutura das bibliotecas. A pesquisa do Pró-Livro revela que esse espaço só é utilizado pelos estudantes, e isso não apenas nas escolas, mas também nas bibliotecas públicas. "A população em geral diz que esse é um lugar para desenvolver tarefas escolares, que não é visto como instrumento de cultura", afirma Zoara. Ela comenta que o modelo de biblioteca pública brasileiro contribui para essa visão, porque os horários não são propícios para quem trabalha longas horas - como muitos pais e a maioria dos professores - e que não há bibliotecários que cativem ou que sejam mediadores de leitura, ou seja, não interagem com quem vai ao espaço nem tentam estimular o interesse pela leitura. No caso das bibliotecas escolares, o cenário é pior, de acordo com Ezequiel Teodoro da Silva, da Unicamp. "São raras as que têm um bibliotecário. Mesmo assim, há uma série de outras carências como o espaço da biblioteca e o abastecimento pobre de livros", diz. Com esses problemas, é difícil para o professor encontrar o suporte de que precisa para o seu trabalho.
Tanto as bibliotecas públicas quanto particulares só são utilizadas pelos estudantes |
Para se aproximar de seus estudantes, uma dica da professora Ana Graziela é seguir o ditado "se não pode vencê-la, junte-se a ela" em relação à tecnologia. Isso porque o ritmo acelerado de vida em que as crianças estão inseridas está mais em sintonia com tecnologias como o celular e a internet do que com a tranquilidade do ritmo da leitura de um livro. "Encontro crianças e famílias que consideram uma tortura a necessidade de encarar um livro. O maior desafio é criar estratégias para alcançar esse público, sem que o aluno se torne menos crítico e argumentativo. Sugiro que a literatura seja associada a outras mídias, fazendo com que elas sejam apenas o gatilho para disparar o interesse", explica.
Para ela, isso não significa deixar de indicar um livro, e sim trabalhá-lo em paralelo a outras mídias. Ela sugere a criação de blogs literários, a premiação dos maiores leitores da turma e a criação de projetos de experimentação literária, por exemplo, aliados a mídias digitais. Mesmo que o professor não seja afeito à tecnologia, diz Zoara, sempre é possível escolher uma leitura adequada para a faixa etária, falando sobre aquela leitura e depois desenvolvendo trabalhos lúdicos e criativos, como dramatizações, resenhas e games.
Uma alternativa para os docentes que buscam incentivar o gosto pelos livros, mas não contam com o apoio da escola e têm pouco repertório e condições para desenvolver um trabalho complexo, é se inscrever em um projeto de leitura. Existem muitos oferecidos por ONGs, empresas e governos em todo o país. Um deles é o grupo "Projetos de Leitura", liderado pelo escritor Laé de Souza que gratuitamente, mediante inscrição, envia a escolas do Brasil inteiro um kit com livros e um projeto a ser desenvolvido a partir deles, com manual do professor, exercícios e folhas de avaliação. Hoje o movimento tem oito projetos (três deles para escolas) e atende a 300 escolas de ensino fundamental e médio. "No final da leitura, fazem a discussão do texto e atividades sugeridas, como adaptação para o teatro. Cada aluno escreve um texto se baseando nas histórias e as melhores crônicas vão para um livro que editamos todo ano", descreve Souza.
Investir na famíliaO projeto de uma professora mineira envolve os pais nas atividades leitoras
Preocupada com a falta de interesse e envolvimento de seus alunos em todas as atividades que exigiam a capacidade leitora, a professora de língua portuguesa e literatura Ana Graziela Cabral, que lecionava o 5º ano do ensino fundamental no Centro Pedagógico de Educação Básica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tomou a iniciativa de aproximar os livros de seus estudantes sem fazer disso algo obrigatório. "Deparava-me com crianças a cada dia menos críticas, com uma menor capacidade interpretativa e argumentativa. Optei por envolver a família no problema, para que, longe dos muros da escola, o aluno pudesse encontrar um referencial de um bom leitor", conta. Ela criou o projeto "Incentivo à leitura: o livro que marcou minha vida", no qual os alunos deveriam pedir a um familiar a indicação de uma obra que tivesse marcado a sua vida. Em sala de aula, os jovens elaboravam entrevistas sobre aquele livro ao seu parente. O familiar deveria então, junto ao aluno, buscar o livro em uma biblioteca ou comprá-lo, e o jovem tinha de ler a obra. Depois disso, os estudantes faziam uma série de atividades em sala de aula, apresentavam o livro à turma e depois no pátio − junto ao parente − e produziam uma carta de recomendação da obra para outras turmas. "Os resultados foram surpreendentes. Tive retorno de pais que relataram que, após a indicação do primeiro livro, os filhos passaram a ler novas indicações de familiares de uma forma espontânea. Há também alunos que relataram que os pais passaram a dedicar tempo a momentos de leitura com o filho", comemora.
fonte:
http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/181/o-novo-formadorpesquisa-revela-que-professores-sao-as-figuras-que-257871-1.asp
03. MICRO-HISTÓRIAS para começar
Gabriel Perissé*
"Era uma vez"...Toda vez que contamos que "era uma vez" reabrimos caminhos de percepção e conhecimento. A pequena história da bruxa sem memória não vai querer sair da nossa memória... A não ser que fechemos todas as portas e janelas, porque nenhuma história é tão boba a ponto de querer ficar trancada para sempre numa "cachola".
"Era uma vez" é uma forma de pedir sem pedir nossa merecida atenção, uma oportunidade, um evento que inaugura espaços para sobrevoar as nuvens, desbravar as florestas, visitar o fundo dos mares, descobrir passagens secretas, escalar as montanhas mágicas, decifrar textos sagrados, fazer e desfazer feitiços.
Por que não contamos aos alunos, todos os dias, uma história? Nada que seja longo ou muito complicado. Podemos narrar micro-histórias, microcontos, histórias breves, piadas, episódios inusitados, captações do cotidiano, novas lendas, mitos renovados...
Que seja um compromisso de hora marcada, mas não burocrático. Momento aguardado todos os dias, porém, por ser janela poética que se abre e deixa entrar a luz da imaginação na sala de aula... e nas mentes.
Aprende-se a contar?Aprender a contar histórias é sempre uma forma divertida de entender o mundo e o comportamento das pessoas. E contar histórias compactas torna a tarefa mais acessível e factível. Não é preciso pensar em demasiadas questões, pois a questão principal se concentra num número reduzido de personagens e numa ação que não se estenderá por dezenas de capítulos como numa novela ou romance.
Para começar, é importante ter em mente alguma dificuldade, alguma "fratura", algum problema (à primeira vista insolúvel), para que a história desperte rapidamente o interesse dos ouvintes. A nossa vida é um exemplo de altos e baixos, acertos e enganos, avanços e recuos, sustos e alívios. A história inventada recebe sua inspiração profunda do caráter biográfico de nossa existência.
Reconhecemos, por exemplo, na bruxa desmemoriada, um problema que tem muito a ver com certos modos de avaliação de aprendizagem. Se aprender se limita à memorização de fórmulas e regras, o destino pode vir a ser a prisão eterna, a reprovação sem saída.
Narrativas curtas no início da aula (associadas ou não a algum tema a ser abordado) exigem a fantasia em diálogo com o realismo. Uma história inventada não precisa ser absurda. O mundo em que animais e plantas falam, objetos têm personalidade e monstros estranhos atuam com naturalidade: é o nosso mundo humano, o único mundo que conhecemos, mas que se reapresenta revestido de outros formatos, outras cores, outros movimentos.
Aprendemos a inventar histórias quando aprendemos a ver o outro lado da vida. Que, no fundo, é a vida que vivemos, mas agora transfigurada pela mente que não tem medo de transbordar.
Ensinar sem ensinarTemos de aprender a desfazer o feitiço do tédio. A pedagogia do tédio é uma teia, na qual ficamos presos, presos ao receio de encontrar o desconhecido.
Era uma vez uma aranha que passava seus dias tecendo uma teia quase invisível, mas muito resistente, na qual insetos voadores caíam sem perceberem. Os fios de sua teia eram tão fortes que poderiam prender um pássaro, pensava a aranha, sorrindo e tecendo. Um dia, enquanto cochilava, sentiu vibrações estranhas: uma nova vítima tinha caído em sua armadilha. E parecia ser um bicho grande, que se debatia com força, tentando se libertar a qualquer preço. A aranha correu até lá, pronta para degustar um almoço que poderia durar uma semana inteira... e encontrou a mão do jardineiro desfazendo sua teia, pouco a pouco.
Ainda temos a pretensão, talvez, de ensinar algo com nossas pequenas histórias. E, de fato, alguma coisa havemos de ensinar. Mas se trata de ensinar sem ensinar. Não temos como adivinhar o que os alunos vão aprender com nossas micro-histórias.
Possivelmente nem nós mesmos saibamos o que estamos nos ensinando. O que me diz a aranha dessa história? Sonhando alto, desconhece o que existe para além de sua teia, seus planos e projetos. Nós também, professores, não podemos prever tudo. Iniciar uma aula com uma história é ter a atitude de disponibilidade para aprender. Aprender e se surpreender.
*Gabriel Perissé é doutor em Filosofia da Educação (USP) e pesquisador do Núcleo Pensamento e Criatividade (NPC) - www.perisse.com.br
fonte:
http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/190/micro-historias-para-comecarpor-que-nao-contamos-aos-alunos-todos-os-277178-1.asp
04. Conduta do professor e motivação dos alunos
Bom relacionamento traz benefícios.
Mas para se chegar a essa relação é preciso que o aluno perceba o interesse do professor em ensinar, ele vai se sentir motivado a se dedicar às tarefas de aprendizado, se ele verificar que seu professor se importa, se fixa neles, e não passam despercebidos aos olhos do mestre.
A conduta do professor sem dúvida influi sobre a motivação dos alunos, por exemplo, quando um aluno se sente menos comprometido com seu aprendizado, participa menos das aulas e recebe um comentário de seu professor que o desanima ainda mais. No mesmo contexto, um aluno que está com ótimas notas recebe elogios e reforços. Esse será um ponto negativo de um educando: dedicar toda a atenção aos que já estão suficientemente motivados e ignorar os que mais necessitam de sua atenção.
É verdade que a dedicação do aluno influi muito sobre a conduta do educador, uma prova disso é que o professor tende a responder mais a alunos que demonstrem maior interesse pela aula, que perguntem mais e se tornem ativos. Ao contrário, subentende-se do aluno passivo, àquele que acha o professor incapacitado ou que este não seja de seu agrado, e alguns ainda são os que mais incomodam em sala de aula.
Professor, não se sinta culpado se estes fatos estiverem ocorrendo em seu desempenho profissional, controle seus sentimentos, não responda ao desinteresse dos alunos com o seu desinteresse.
Aluno lembre-se que o professor o supera em idade, conhecimento e governo.
Por Líria Alves
Equipe Brasil Escola
fonte:
http://educador.brasilescola.com/etica/conduta-professor-motivacao-dos-alunos.htm
05. A escola que queremos e a que o capitalismo nos dá
Na capitania da Bahia, em 1550, foi fundado o primeiro colégio jesuíta
no Brasil. A educação dada pelos jesuítas , foi conservada desde o
período colonial até a segunda metade do século dezoito. Os padres
jesuítas, que tinham o papel primordial de catequizar os índios, levando
a eles a fé cristã, com o célebre "Ratio atque Instituto Studiorum
Societas Jesu", anunciado definitivamente em 1599 e na prática nas
escolas de todos os níveis que estavam instituindo em diversos lugares
do mundo, transformaram o seu procedimento pedagógico , culminando suas
ações na educação em geral e não apenas à catequização dos índios.
A Educação no Brasil, na segunda metade do século dezoito ainda durante o
período colonial, foi caracterizada pelas reformas pombalinas,
acentuando a competitividade entre o Estado português e a Igreja.
Através da ação política do Marquês de Pombal, houve a expulsão da
Companhia de Jesus, começando o período pombalino. Com a expulsão dos
jesuítas da colônia aconteceu a desarticulação do sistema educacional
escolar. Contudo, com a elaboração e promulgação do Alvará Régio de 28
de junho de 1759, foram eliminadas todas as Escolas normatizadas pelo
modelo dos jesuítas e se estabeleceu um novo regime, que fez uma intensa
censura ao procedimento do "Ratio Studiorum”. Ficou então, sob a
coordenação do Estado português o controle definitivo da educação
colonial, padronizando a educação na Colônia , supervisionando a ação
dos professores e do material didático. Instituiu-se a função do Diretor
dos Estudos, que nomearia os professores e fiscalizaria as suas
atuações. No entanto, este sistema de ensino era primordialmente usado
pelas elites coloniais.
Quando o Brasil assume sua independência política de Portugal,
instituindo o estado imperial brasileiro, foi concretizada a criação da
Academia de Direito do Largo de São Francisco, que, ficou com a
autonomia vigiada pelo Estado.
O ensino do Estado, ficou dividido em duas vertentes: a nacional e a
provincial. A vertente nacional tratava dos níveis primário e secundário
em relação à corte, e pelo nível superior em todo o país; a vertente
provincial responsabilizava-se pelos níveis primário e secundário nas
províncias.
Com o aparecimento da república houve a preocupação do ensino básico
como responsabilidade do Estado, defendendo a atitude humanitária e
patriótica da educação pública, preconizando que seria a exclusiva
abertura para o avanço do direito básico do cidadão. No entanto, o que
aconteceu foi que as pressões e exigências populares, ficaram só no
papel e na fala, sem equacionamentos ou soluções. A atuação do Estado na
educação, se deu de modo desinteressado e sem pressões populares, sem
cobranças efetivas.
Ao longo do percurso histórico e político, as ações do Estado oscilam ao
sabor da temporada política. A educação como função do Estado é
eminentemente um fenômeno histórico e político. A escola pública que
temos é a escola pública que o Estado nos quer contemplar, e este é o
objetivo da dominação ideológica e da manutenção da ordem social. A
escola que queremos, não é aquela que o Estado capitalista quer. De
acordo com Frigotto, “o papel da educação na ideologia capitalista
atual, expressado pelo conceito de empregabilidade, é produzir um
“cidadão mínimo” carente de capacidades cívicas. Ele discute que o
capitalismo é destrutivo e precisa ser substituído por um sistema mais
humano”. De acordo com Gentili, “Educados num sistema escolar
pulverizado e segmentado, coabitados por circuitos educacionais de
oportunidades e qualidades diversas; oportunidades e qualidades que
mudam conforme a condição social dos assuntos e os recursos econômicos
que eles têm para acessar a privilegiada esfera dos direitos da
cidadania”, ressalta com esse pensamento a desigualdade dos sistemas
escolares na América Latina .
Manifesto minha preocupação com a educação no Brasil, pois proporcionar a
qualidade de ensino e a gestão democrática da escola levaria a
invalidação da sustentação do poder amparada pelo Estado capitalista. A
consumação de um processo educacional para um cidadão de fato e não
apenas de direito, traria conflitos com o Estado que, enquanto
mantenedor e administrador dessa educação, não teria o menor interesse
em mantê-la nessas categorias. A escola que queremos, é a escola que
temos, proporcionada pelo Estado, e não a escola sonhada e idealizada.
Referências: Capitalismo, Trabalho e Educação .
Autora: Amelia Hamze
Educadora
Profª UNIFEB/CETEC e FISO - Barretos
fontes:
http://educador.brasilescola.com/politica-educacional/escola-capitalismo.htm
06. A educação não é tudo
O salário dos professores e das professoras é apenas um elemento de um conjunto de outras medidas para que a qualidade de ensino seja impulsionada.Embora o senso corrente nos informe que 98% da população escolarizável (entre 7 e 14 anos) esteja freqüentando a escola pública brasileira, estudos e pesquisas de órgãos e instituições nacionais e internacionais dão conta de que a produtividade desses estudantes em leitura, escrita, interpretação e em matemática passa ao largo do que se poderia considerar bem-sucedida. Esses estudantes continuam seus estudos no ensino médio carregando o fardo da falta de qualidade dos próprios saberes, os quais, quando requeridos no ensino superior, serão demonstrados de maneira pífia e até constrangedora. Um quadro de fracasso preocupante.
Essa realidade motiva debates, discussões e embates sobre como melhorar a qualidade do ensino. Foi o que aconteceu no mês passado, no ensejo da comemoração do Dia do Professor, quando o jornal Folha Online publicou matérias a respeito do assunto. O enfoque dado à discussão recaiu no salário do professor: no Acre, o professor ganha R$ 13,16 por hora aula; em São Paulo, R$ 8, 05.
Esses dados provocaram a reação da secretária de Estado da Educação Maria Helena Guimarães de Castro. Segundo ela, "O quadro mostra, com clareza, que não há uma relação direta entre salário e qualidade do ensino, embora a questão salarial seja fundamental para valorização dos professores".
A essa fala o jornal contrapôs a opinião de um outro professor, Antônio Chizzotti, da PUC-SP, para quem "Uma das questões fundamentais na qualidade de ensino é a remuneração do docente", sem a qual o profissional do ensino fica impedido de estudar, comprar livros, ir ao teatro, o que acarreta prejuízo porque isso tudo é formação. Além disso, lembra o professor, "não dá para cobrar bom trabalho de um funcionário a que se paga mal."
O ministro da Educação, Fernando Haddad, foi citado na matéria porque lembrou que o piso salarial nacional para os professores, aprovado na Câmara dos Deputados, é de R$ 950, o qual ainda ressaltou que, "como professor, e no dia dos professores, não posso dizer que considero [o valor] ideal."
Aplausos para o bom senso do ministro e para o entendimento de Chizzotti: o professor e a professora precisam, sim, ganhar bem, muito bem. Sobre isso parece haver consenso. Digna de debate é a afirmação da secretária da Educação de São Paulo: realmente, a questão salarial é essencial para a valorização dos professores.
Nesse sentido, vale lembrar aqui uma pesquisa que a Unesco publicou, no dia 25 de outubro de 2004, sobre os professores brasileiros, atuantes nas escolas públicas e na rede privada. Segundo a Unesco, 45% dos profissionais da educação jamais tinham ido ou tinham ido uma única vez a um museu; 40% deles jamais tinham ido ou tinham ido somente uma vez ao teatro; 25% nunca tinham ido ou tinham ido apenas uma vez ao cinema; 60% dos professores e professoras não tinham acesso à internet, nem faziam uso do e-mail.
Se considerarmos que museus, teatro, cinema e internet, ao lado de livros, revistas, estudos científicos e de divulgação científica, entre outros, são imprescindíveis à formação inicial e continuada dos professores, por possibilitarem-lhes a atualização ininterrupta, então a situação dos docentes em nível nacional também é preocupante: demonstra um quadro que bem poderia ser resolvido pela via da melhoria salarial.
A outra parte da fala da secretária da Educação paulista é que demanda maior discussão: “não há uma relação direta entre salário e qualidade do ensino”. Ela está certa quando faz essa afirmação, mas falta dizer que só afirmar isso não é tudo. O salário pode incrementar a qualidade pessoal e profissional docente, uma vez que, em uma sociedade de mercado como a brasileira, ter acesso qualificado aos bens simbólico-culturais indispensáveis à boa formação continuada do professor é algo que depende de dinheiro.
Um professor e uma professora que lêem mais, que vão a museus, teatro, cinema e que utilizam eficientemente as potencialidades da internet para entrarem em contato com processos de produção e apropriação de informações, conhecimentos e saberes diversos podem usar a qualidade adquirida nessas atividades para imprimir maior eficácia às aulas que ministram. Quem nega isso? Acontece, porém, que qualidade de ensino não depende única e exclusivamente do trabalho didático-pedagógico do professor e da professora.
Em debates dessa natureza, muitas vezes assistimos aos debatedores enfocando parcialmente as questões envolvidas nele e se esquecendo de uma verdade cristalina, a saber: a escola é social, econômica, política e culturalmente referenciada. É isso, aliás, o que Otaíza Romanelli de Oliveira nos conta em seu livro História da educação no Brasil, publicado pela Editora Vozes, de Petrópolis.
Segundo ela, ao final de uma experiência docente em uma escola projetada e colocada em ação segundo os melhores critérios para o alcance da qualidade (eficiência e eficácia nas habilidades e competências nos atos de ler, contar, escrever, debater e escrever), na apuração dos resultados dessa escola os envolvidos no projeto descobriram que não se distanciavam muito das outras instituições educacionais da rede e que não estavam recebendo o mesmo tratamento.
Intrigados com esses resultados, conta Otaíza, aqueles profissionais chegaram à conclusão de que não adianta a escola ser internamente 100% equipada, contar com os melhores professores, pagar aos docentes os melhores salários de que dão conta e ter infra-estrutura da melhor qualidade se no seu entorno social, econômico, político e cultural as coisas não andam na mesma marcha.
Aquela experiência nos faz lembrar, então, que: 1. educação não é tudo; 2. sem que haja um projeto de democratização das estruturas sociais articulado com o trabalho da escola, a instituição educacional pouco pode fazer no sentido de obter mais qualidade de ensino, fazendo-a se estender à vida prática dos membros da sociedade; 3. qualidade depende de quantidade, sim: mais justiça social, mais igualdade, menos preconceito, mais democracia política, mais acesso a bens culturais, mais cooperação e mais solidariedade contribuem para que a escola que busca mais qualidade de ensino possa ser bem-sucedida.
Fica, assim, mais fácil de entender a fala da secretária da Educação de São Paulo: ainda que o salário seja vital à valorização do trabalho docente, ele não é o único determinante da qualidade de ensino. Pouco adiante o professor ganhar bem se, ao lado dele, de seu trabalho e da instituição onde atua campeia a desigualdade, a injustiça, a exploração, a alienação quanto ao que é importante para o processo de humanização. Aliás, o professor ganhar pouco é um reflexo da injustiça social e das demais mazelas que permeiam nossa sociedade.
Conclusão: O professor e a professora precisam ganhar mais, ser valorizados, reconhecidos como profissionais, os quais deveriam ter auto-regulação, domínio dos processos de formação docente e controle do exercício profissional. No entanto, se quer mesmo qualidade de ensino, nossa sociedade terá de transformar suas estruturas no sentido de imprimir-lhe mecanismos que visem ao alcance de mais igualdade, mais liberdade e mais humanidade em seus processos educacionais e nos de sociabilidade.
Até quanto vamos desviar ou reduzir esse debate, deixando de enfrentar o ethos constituinte de nosso modelo societário fundado no lucro, no consumo, na competitividade, no individualismo e na acumulação? Quando é que nos colocaremos questões sobre se estamos de acordo com essa sociedade de mercado aí vigente ou se queremos pugnar por uma sociedade de direitos e de real cidadania? Até quando vamos nos desviar dos efeitos que o sistema capitalista acarretam à formação de identidades e subjetividades contra as quais a escola pouco pode fazer?
O enfrentamento dessas questões talvez contribua para que sejam esclarecidas as razões de porque bom salário para o professor não é tudo, ainda que ele seja o de que necessitamos, assim como educação não é tudo e como a escola, por si só, também não pode salvar, redimir ou transformar a sociedade na qual se vê inserida.
Por Wilson Correia
Colunista Brasil Escola
fonte:
http://educador.brasilescola.com/politica-educacional/a-educacao-nao-tudo.htm
07. Cuidados com a Escola
É papel do gestor cuidar da aparência física da escola
Para que aconteça a aprendizagem na escola e haja um clima de respeito e segurança no ambiente alguns cuidados são necessários.
Na escola, tudo deve estar na mais perfeita ordem
para que o aluno sinta-se valorizado e encontre no ambiente escolar a
esperança de uma vida melhor, desde quem recebe o aluno no portão, até
as instalações da sala de aula e outras dependências da instituição.
O preparo do ambiente escolar, tornando-o acolhedor,
agradável e bonito aos olhos de todos, é uma ação pedagógica de
responsabilidade do gestor da instituição.
Muitas escolas se encontram em estado físico tão destruído e mal cuidado que os alunos não sentem atração alguma pela mesma.
Imagine-se no lugar desses alunos, chegando a uma
sala de aula com carteiras quebradas, pintura descascada, pouca
iluminação, goteiras, dentre outros tantos pequenos problemas. Será que
teria disposição e motivação para passar cinco horas do seu dia num
local assim? Quais os valores da educação se não se pode estudar numa
escola bem cuidada, limpa e bonita?
A aparência física da escola é importante para o
aluno, pois esses cuidados demonstram que a direção da escola, ou seja, o
gestor escolar, se preocupa em manter um clima de respeito aos alunos,
sendo responsável pela parte educativa que cabe à diretoria da escola a
apresentação física da mesma.
Além disso, a estruturação da grade curricular, o
acompanhamento dos trabalhos dos professores, reuniões pedagógicas do
corpo docente e administrativo, etc. são partes do processo de
aprendizagem de responsabilidade do gestor, elementos que não podem
faltar.
Em se tratando de escolas públicas, a depredação deve
ser trabalhada com a comunidade. As pessoas precisam aprender que o
público é algo de todos e, portanto, para o bem-estar das pessoas que
moram naquela região. Se eles mesmos são tratados com desrespeito, com
prédios mal cuidados e sem estrutura, sentirão que aquela escola não
promove uma educação de qualidade. Afinal, uma coisa está relacionada
com a outra, é a pura questão da motivação.
Por Jussara de Barros
Graduada em Pedagogia
Equipe Brasil Escola
Graduada em Pedagogia
Equipe Brasil Escola
fonte:
08. As ondas da vida e do conhecimento
Primeiro foi a revolução agrícola, depois a revolução industrial,
atualmente a revolução tecnológica modifica fortemente o arcabouço do
conhecimento e da realidade em que vivemos.
Na primeira onda ou sociedade agrária, a principal forma de capital era a terra. Foi uma forma de criar riqueza cultivando a terra e havia necessidade de um mínimo de noção sobre o plantio e o ânimo corporal para trabalhar. Era formada de um ambiente que pouco evoluía, pois não havia televisão nem rádio em casa. As informações provinham de poucos espaços (família, igreja, escola). Na primeira onda a propriedade rural era mantenedora de empregos, caracterizada pelo domínio da agricultura.
Já na segunda onda, a forma de criar riqueza passou a ser a oficina industrial e a corretagem de bens. A fábrica passou a ser geradora de recursos econômicos e financeiros e a fundamental produtora de empregos. O conhecimento provinha dos jornais, das revistas, do rádio e da televisão. A distribuição de conceitos visuais foi vastamente disseminada. As pessoas eram capacitadas para o padrão de produção industrial estabelecido para a época.
Na terceira onda o conhecimento adota o valor do principal recurso econômico e a riqueza construída pela sociedade. Atualmente, a este conjunto de conhecimento e informações é anexado o valor aos produtos por elas produzidos mediante o aproveitamento da inteligência, e foi denominado Capital-Intelectual. É a constituição de uma nova sociedade onde a era da informática constitui um moderno estilo de vida precipitando a absorção de informação, transformando intensamente a estrutura do conhecimento e da realidade em que vivemos.
De acordo com Alvin Toffler - o analfabeto do século XXI não será aquele que não sabe ler nem escrever, mas aquele que não for capaz de aprender, desaprender e reaprender. Na terceiraonda o trabalho do homem é substituído pelas inovações tecnológicas, possibilitando o aparecimento da sociedade da informação. Vivemos um período fortemente caracterizado pela internacionalização do comércio proporcionado pela globalização. Acontece atualmente um procedimento de universalização da produção e do consumo, administrado pela direção econômica neoliberal.
O acesso à formação educacional atualmente é mais complicado, pois não temos tantas certezas como em outras ocasiões históricas passadas. Hoje, o papel do professor vai além da transmissão dos conteúdos, há necessidade de despertar nos alunos a capacidade de produção subjetiva para se sentir pertencendo à humanidade, buscando a igualdade real em uma sociedade capitalista, que é fundamentalmente desigual e excludente. O capitalismo e a sociedade burguesa mantêm vantagens e desigualdades e aumenta a exclusão social. Devemos batalhar pedagogicamente por uma sociedade justa, igualitária do ponto de vista real.
Aí está a identidade do verdadeiro educador nessa era do conhecimento, quando busca o papel político-pedagógico transformador, interagindo com a sociedade da informação, caracterizada pela terceira onda.
Ref: Alvin Toffler
Autora: Amelia Hamze
Educadora
Profª UNIFEB/CETEC e FISO - Barretos
Na primeira onda ou sociedade agrária, a principal forma de capital era a terra. Foi uma forma de criar riqueza cultivando a terra e havia necessidade de um mínimo de noção sobre o plantio e o ânimo corporal para trabalhar. Era formada de um ambiente que pouco evoluía, pois não havia televisão nem rádio em casa. As informações provinham de poucos espaços (família, igreja, escola). Na primeira onda a propriedade rural era mantenedora de empregos, caracterizada pelo domínio da agricultura.
Já na segunda onda, a forma de criar riqueza passou a ser a oficina industrial e a corretagem de bens. A fábrica passou a ser geradora de recursos econômicos e financeiros e a fundamental produtora de empregos. O conhecimento provinha dos jornais, das revistas, do rádio e da televisão. A distribuição de conceitos visuais foi vastamente disseminada. As pessoas eram capacitadas para o padrão de produção industrial estabelecido para a época.
Na terceira onda o conhecimento adota o valor do principal recurso econômico e a riqueza construída pela sociedade. Atualmente, a este conjunto de conhecimento e informações é anexado o valor aos produtos por elas produzidos mediante o aproveitamento da inteligência, e foi denominado Capital-Intelectual. É a constituição de uma nova sociedade onde a era da informática constitui um moderno estilo de vida precipitando a absorção de informação, transformando intensamente a estrutura do conhecimento e da realidade em que vivemos.
De acordo com Alvin Toffler - o analfabeto do século XXI não será aquele que não sabe ler nem escrever, mas aquele que não for capaz de aprender, desaprender e reaprender. Na terceiraonda o trabalho do homem é substituído pelas inovações tecnológicas, possibilitando o aparecimento da sociedade da informação. Vivemos um período fortemente caracterizado pela internacionalização do comércio proporcionado pela globalização. Acontece atualmente um procedimento de universalização da produção e do consumo, administrado pela direção econômica neoliberal.
O acesso à formação educacional atualmente é mais complicado, pois não temos tantas certezas como em outras ocasiões históricas passadas. Hoje, o papel do professor vai além da transmissão dos conteúdos, há necessidade de despertar nos alunos a capacidade de produção subjetiva para se sentir pertencendo à humanidade, buscando a igualdade real em uma sociedade capitalista, que é fundamentalmente desigual e excludente. O capitalismo e a sociedade burguesa mantêm vantagens e desigualdades e aumenta a exclusão social. Devemos batalhar pedagogicamente por uma sociedade justa, igualitária do ponto de vista real.
Aí está a identidade do verdadeiro educador nessa era do conhecimento, quando busca o papel político-pedagógico transformador, interagindo com a sociedade da informação, caracterizada pela terceira onda.
Ref: Alvin Toffler
Autora: Amelia Hamze
Educadora
Profª UNIFEB/CETEC e FISO - Barretos
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